querida Miriam, aprendo
turco, custe o que custar: sem livros, sem professor, sem tempo, sem turcos. é
um desafio de pelo menos três anos já. Ayse, a rapariga da Anatólia que me tentava
ensinar a loucura dos sufixos pelo meio das nossas conversas de geo-política,
sumiu-se para Ankara e não sei se regressa.
a culpa foi toda do j.
que, das possíveis ofertas, escolheu o Kara Kitap. de repente foi um novelo e
encontrar a alma-gémea numa cidade. aquele lugar é como olhar-me de fora. se as
teias dos meus enredos ganhassem forma, essa forma seria Istambul. dura, doce,
mergulhada do tempo, no caos, no fio da navalha, onde tudo são espelhos e nada
corresponde à literalidade da luz lisboeta. violência, uma, amabilidade triste,
outra.
quase nos cinquenta tenho
dezoito antes que se abram os portões de ferro, diz o poeta. quem sabe, ninguém
sabe, o mundo é sonho.
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